SINAIS, a crónica de Fernando Alves, fez hoje pela manhã chegar às nossas casas a espuma dos dias em que navegamos. Falou ele dos velhos e do apartamento a que estão confinados. Escutei, memórias ainda frescas, as palavras de indignação que fui lendo e ouvindo durante a semana, por aqui e por ali, a respeito dos velhos que teimam em ir aos jardins, em procurar os amigos das jogatinas, sentar-se nos bancos (que agora estão vedados com fitas de bloqueio) ou passear por seis vezes até ao supermercado em vez da vez que lhes está destinada e que, assim, se infectam e nos infectam. Apartamento, dizia homem da rádio, buscando-lhe a etimologia: apartar, deixar de fora, excluir. Dizia também velhos e não idosos, que lembra leprosos. O homem da rádio, de uma Telefonia Sem Fios, procura diariamente os sinais da nossa humanidade e manter-nos ligados ao mais essencial, ao que a peste nos pode fazer perder ou esquecer, ao que fomos já apartando das nossas vidas mesmo antes de ela chegar, à nossa doença colectiva.
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