
Carta Aberta de membros da Sociedade Portuguesa de Psicanálise sobre situação política no Brasil
Como cidadãos do mundo e como psicanalistas estamos profundamente preocupados com a actual situação política vivida no Brasil, país que nos é particularmente querido pela história, pela língua e pelo trabalho que temos desenvolvido em comum. Conhecemos a sua riqueza, tanto do ponto de vista dos recursos naturais como humanos, sabemos da sua pujança, da sua capacidade de transformação, da sua enorme criatividade; infelizmente, também conhecemos as suas grandes desigualdades sociais e os problemas de pobreza extrema, de violência, de analfabetismo, de desespero e de medo.
A história tem-nos ensinado, e nós, portugueses, vivemo-lo na pele, que condições sócio-económicas e culturais frágeis, difíceis, são propícias ao surgir de arautos messiânicos que, auto proclamando-se salvadores da pátria, mais não fazem do que reforçar o poder de alguns à custa da repressão violenta de qualquer possibilidade de desenvolvimento de uma política realmente democrática, propiciadora do florescimento económico sustentado e do atenuar das desigualdades sociais.
Desta forma, incomoda-nos e inquieta-nos profundamente o cariz destrutivo, violento, misógino, racista do discurso que uma parte da classe política brasileira, através do seu porta-voz Bolsonaro, usa para ganhar votos. Sabemos que entre um discurso inflamado e uma prática efectiva pode medear um passo muito curto. E uma liderança tecida no ódio, no desejo de morte e de exclusão é um ataque à democracia, ao estado de direito e às liberdades fundamentais e só pode fomentar a destruição, o dividir para reinar, a corrupção, o medo, o embotamento, a impossibilidade/ dificuldade de ser, de sentir e de pensar, em suma, aquilo a que o psicanalista Réfabert (2001) chama “assassinato da alma”.
Todos devemos ter uma atitude activa, face ao risco de tão brutal violência nos âmbitos intrapsíquico, interpessoal e social. Não podemos ser cúmplices!
Membros da Sociedade Portuguesa de Psicanálise
Luísa Branco Vicente
Maria Antónia Carreiras
Ana Sotto Mayor
Rui Aragão Oliveira
Pedro Salem
Maria Fernanda Gonçalves Alexandre
João Seabra Diniz
Ana Marques Lito
Isabel Margarida Pereira
Luís Robert Nogueira
Crisélia Sanromán
Sílvia Joas Erdos
Cristina Farias Ferreira
Maria Carmo Sousa Lima
Sandra Lacasta
Carina Brito da Mana
Joana Cardo da Costa
Pedro Job
Tiago Chagas
Maria Teresa Graça
Sandra Oliveira
Manuela Harthley
Isabel Quinta da Costa
Catarina Fernandes
Joana Bicho
Raquel Quelhas Lima
Maria José Gonçalves
Csongor Juhos
Emílio Salgueiro
Maria Deus Luís Brito
José Abreu Afonso
Isadora Pereira
Henriqueta Martins
Rita Marta
Filipe Cardoso Silva
Margarida Miranda
Catarina Rebelo Neves
Rita Gameiro
Filomena Carvalhinho Lopes
João Keating
Edviges Guerreiro
Andreia Cruz Gonçalves
Vítor Branco
Eugénia Soares
Bruno Raposo Ferreira
Maria Bibas Pereira
Carlos Ferraz
Conceição Tavares de Almeida
Inês Ataíde Gomes
Bruno Rosa
Conceição Melo Almeida
Ana Charro Garcia
Maria Teresa Sá
Ana Luísa Ferreira
Ana Belchior Melícias
Sónia Soares Coelho